quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Noite em quarto de Hotel

O cigarro que seguras na mão, e que raramente levas aos lábios, consome-se lentamente no escuro do quarto de pensão. O quarto é pequeno e além da cama de casal pouco larga e com duas mesinhas de cabeceira de cada lado, tem uma cómoda não muito grande com uma televisão minúscula em cima. As persianas estão corridas e apenas um pequeno retalho da luz da manhã entra pelo escuro. É o suficiente para desvendar as roupas que estão espalhadas pelo chão e o carreiro de fumo do tabaco que está a arder. Ouves sem qualquer entusiasmo os sons matinais do Hotel, as portas dos quartos que se abrem e fecham, o mecanismo do elevador que pára e recomeça e os passos incógnitos que atravessam apressados o corredor. Escutas tudo com atenção apesar de só teres dormido pouco mais de meia hora. O resto do tempo passaste-o a pensar se, na verdade, precisas mesmo de te envolver nestas noites e, se não, quais as opções que terás.
Já estás sentada na cama há várias horas. Não conseguiste dormir e também não te esforçaste muito por isso. Fumaste vários cigarros, alguns deles acendidos com a beata dos anteriores e tentaste sem êxito beber uma miniatura de whiskey do mini bar. Agora sentes um hálito horrível e desagradável na boca que te provoca um vazio no estômago e uma sensação terrível de desmaio. Estás fraca e deixas-te estar sentada a pensar como vais conseguir estar a trabalhar as próximas 8 horas. Apetece-te ir para casa dormir.
O Carlos está adormecido ao teu lado, sem qualquer peso de ter deixado a mulher e os seus dois filhos em casa. Está nu e tu não podes deixar de admitir que tem um corpo cuidado e bonito. Tem muitos pêlos nos braços e nas costas meia dúzia de borbulhas prontas a explodir. Em outras circunstâncias terias tentado espremê-las. Mas agora não, a ideia gera um arrepio que te percorre o corpo. Não queres voltar a tocar nele. Se a vida fosse um filme, tentarias sair da cama sem que aquele corpo acordasse. Era a melhor forma de acabar com tudo isto. Agradou-te a ideia de sair dali e tentas pular da cama em silêncio. Mas como a vida não é um filme, Carlos acordou com os movimentos. Olhou-te com um sorriso filho-da-puta e desejou-te os bons dias enquanto se espreguiçava.
- Sabes que horas são?
Não sabias. Encolheste os ombros e apagaste o cigarro no cinzeiro que tinhas seguro sobre as pernas.
- Foda-se, fumaste o maço todo ou quê? – esticou o braço para te tocar.
Esquivaste-te do gesto e começaste a apanhar as roupas por ordem inversa à que te despiste. Cuecas, sutiã, calças e camisola.
- Vem cá – pediu ele.
- Vou tomar banho.
- Vem cá.
Não foste. Fechaste a porta da casa de banho e puxaste o autoclismo depois de ouvires o Carlos a peidar-se.