quarta-feira, 4 de março de 2009

Carta ao Ronald

Caro palhaço Ronald Mc Donald

Estou agora a ler o último romance do Douglas Coupland (jPod) e as personagens, para fugirem ao angustiante tédio dos seus empregos, resolveram escrever-te uma carta a propor que as aceites como companheiras. Depois de as ler cuidadosamente, achei que deverias ter um pretendente de carne e osso em vez de figuras ficcionadas com graves problemas de integração na aldeia global. Quer dizer, não estou a falar mal delas, mas acho que mereces bem melhor para cuidares da tua solidão.
Apesar de não ter sentido até hoje uma grande simpatia por ti, chegando mesmo ao cumulo de baixar a cabeça de cada vez que te via à porta dos teus restaurantes de auto-estrada, fiquei com uma sensação diferente depois de ter passado pela fundação que construíste ali para os lados dos Anjos. Achei mesmo impressionante que conseguisses pagar tudo aquilo só com as moedas que os clientes te deixavam naquelas caixinhas transparentes esquecidas nos balcões de Kevlar enquanto pediam os seus menus Mac Colesterol. Fiquei feliz por finalmente haver alguma coisa em que estejas envolvido que não cheire a óleo de batatas fritas.
Mas deixa-me escrever um pouco sobre mim. Sou casado e tenho um filho. Dito assim até parece uma insanidade estar-te a fazer esta proposta, mas vê as coisas pelo lado positivo. Tenho imenso jeito com miúdos e sempre posso ajudar-te nas Macfestasdeaniversário que organizas. Distribuir happy meals pelas crianças e funcionar um pouco como relações públicas para a fidelização de novos clientes. Se me aceitares, posso falar calmamente com a minha esposa e propor-lhe o divórcio. Claro que a partir daí ficarei sem uma parte substancial do meu salário por causa da pensão de alimentos para o puto, mas já viste? quando chegar o meu fim-de-semana levo-o à tua mansão e mostro-lhe a colecção de todos os brinquedos do happy meal que tens nas prateleiras. Os miúdos adoram-te e não tenho duvidas que tocarás o coração do meu em alguma parte da sua vida.
Se formos mesmo viver juntos prometo que te vou dar uma ajuda no teu visual. Iremos os dois falar com cirurgiões plásticos para ver o que se pode fazer. Se calhar, e se concordasses, até podíamos mandar uma carta ao “doutor preciso de ajuda” com a tua foto. Uma vez que és uma figura pública até conseguíamos a mudança de graça. Acho-me mesmo capaz de nutrir um sentimento forte e saudável por aquilo que tu és. Podemos ser felizes.
Promete-me que vais pensar nisto com carinho.

Com consideração
Hugo